Friday, July 18, 2014

Pep talk: Somos lindas o tempo todo!

Todas temos aqueles dias em que nos sentimos bruacas sem salvação, por uma série de motivos. De vez em quando essa sensação dura por um tempo. Cada uma tem sua própria maneira de lidar com essas temporadas de bruxa, seja fazer terapia de compras ou se entupir de chocolate. 

Semana passada fui derrubada por uma infecção na orelha. Já com a cirurgia marcada pra semana seguinte, meu coloboma (uma malformação congênita na orelha) infeccionou como nunca antes, me transformando no Tropeço. Formou-se um abcesso na minha orelha esquerda, inchando tudo da orelha até metade do pescoço. Pesava, doía o maxilar, não dava pra deitar, comer, falar, enfim. 

Passei a semana tomando antibiótico e antiinflamatório poderosos, que mexem com a gente, e não havia analgésico que aliviasse minha dor. Pensa numa pessoa que nem lavar o rosto de manhã lavou. Que dirá passar maquiagem?

Na terça-feira passada, dia da cirurgia, corri ao consultório da cirurgiã pra ver se eu realmente poderia operar, já que a infecção ainda não estava eliminada. Ela liberou e eu fui direto pro hospital. Como eu sabia que podia ser liberada, já tava com a mala no carro, de jejum e com todos os requisitos necessários.

Incluindo unhas completamente nuas.

Foi uma via crucis tirar meu esmalte na segunda à noite. Minhas unhas são extremamente frágeis, fracas e desnutridas, e quaisquer duas horas sem esmalte ou base faz com que elas fiquem retas, quebrem, descamem e sumam. E elas tavam tão bonitinhas, crescidinhas, uniformes. Dito e feito. No dia seguinte todas viraram cotocas.

Mas tudo por um bem maior.

Além disso, óbvio, nada de maquiagem, creme, bb cream, batom, NADA. E eu não morri! Vou confessar que eu estava tão nervosa e ansiosa quando cheguei para me internar - visto que a cirurgia era com anestesia geral e entubação - que eu pouco liguei pro fato de que e tinha olheiras homéricas e fundas por causa de noites mal e pouco dormidas e uma mancha no lado do rosto por causa do inchaço.

Pois bem. Uma hora e meia de procedimento, 4 horas na recuperação anestésica (onde eu quase pulei da minha maca pra bater numa moça que queria porque queria levantar assim que acordou de uma raquidiana) e enfim me levaram pro meu quarto, onde estavam meus pais e namorado. Eu estava curiosíssima pra saber como eu estava. Eu sabia que tinha uma faixa em volta da minha cabeça e um esparadrapo do tamanho do mundo no lado esquerdo do rosto. No caminho da sala de recuperação pro quarto, passei por uma área aberta do hospital, e me dei conta de que, por baixo do cobertor, eu tinha apenas aquele avental que não cobre nada. Aí bateu: "Caraca, eu devo tá um tribufu!"

QUEM LIGA?! 

Fi, cê tá fazendo cosplay de Van Gogh na maca, quem vai ligar pras olheiras, pro rosto inchado, pra (falta de) roupa? O povo devia é tá pensando que eu fiz uma lobotomia...

Quando o efeito da anestesia passou e eu comecei a pensar melhor, minha vontade era de ir ao banheiro, lavar o rosto, tomar um banho, quiçá. Com enfermeiros entrando a noite inteira, eu queria estar um pouco mais apresentável. 

Até parece.

A última coisa que eu queria era levantar da minha cama. Primeira vez em uma semana que eu tava deitando confortavelmente. Depois de 21 horas de jejum, eu queria é comer! E depois de comer, matar a curiosidade: como que eu tava?


Van Gogh e eu somos um.

Quem disse que a enfermagem vai ficar reparando no meu estado cosmético? Quem disse que alguém vai ficar reparando?

Só quem ia ficar incomodada era eu. E por quê? Porque eu sou tonta! Tô no hospital, me recuperando duma cirurgia, o que é mais importante?

Aí eu lembrei porque que a maquiagem é importante pra mim. Além da diversão de se pintar, eu me maquio pra me sentir bem comigo mesma, não pros outros. E ali, no hospital, o que eu tinha que fazer pra me sentir bem era dormir. E comer. Comer era importante. Apresentação pessoal não. Dormir, sim. Comer, sim. Agradecer a paciência do namorado, sim. Receber o enfermeiro da noite com um batom vermelho e cílios falsos, não. Não ia mudar nada pra mim.


Acordei no dia seguinte com a visita da cirurgiã pra tirar meu capacete. Ela olhou os pontos, me deu as receitas e me mandou embora. Enquanto eu esperava a papelada sair e meu namorado buscar o carro, tirei a foto pra ver o meu estado. Já tinha desinchado um pouco, mas fiquei com uns hematomas aqui e ali, e seis pontos na orelha.

Aí eu olhei meu cabelo... A equipe cirúrgica que prendeu, antes de fechar a faixa. Tava preso com o punho de uma luva cirúrgica, meio caída, mas eu achei tão fofo. Um hairstyle cirúrgico. 

Saí de lá divando. Sem maquiagem, sem lavar o rosto, sem arrumar o cabelo e de cadeira de rodas (política do hospital, porque eu tava boa). 

Voltei pra casa quarta-feira cedinho e morguei até hoje. Só hoje tive força pra levantar (cedo), lavar o rosto e botar uma maquiagem na cara. Não por ninguém, por mim. Me maquiei por mim, para mim. Me maquiar levanta meu astral e me dá um boost de confiaça. 

Essa é a minha maior crença. Somos todas lindas o tempo inteiro. No hospital, de cama em casa ou divando no club, com muito glitter, batom vermelho e cílios falsos. A maquiagem nada mais é do que um acessório. É algo que você faz pra se sentir bem, pra se sentir corajosa. Mas é um acessório. Não é essencial. Somos guerreiras de salto, somos guerreiras de havainas!

Guerreiras unidas!

Xoxo
Bah

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